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O álbum marca a mudança sonora que a banda queria tomar a partir do relativo fracasso de seu disco anterior, Televisão, e uma fusão de fatores, como a prisão do vocalista Arnaldo Antunes e do guitarrista Tony Bellotto no final do ano anterior, e as questões envolvendo a relação da banda com sua gravadora, que culminaram em um disco forte e visceral.
As sessões de gravação aconteceram no estúdio Nas Nuvens, no Rio de Janeiro, entre os meses de março e abril. A nova paleta sonora da banda apresentou influências evidentes do punk rock, do pós-punk, do funk rock e do reggae. Para o crítico Alberto Villas, escrevendo na época de seu lançamento para O Estado de S. Paulo, "é um disco chocante, punk, nervoso e muito curioso. Um disco de 'rock-veneno', um grito. Um álbum de surpresas."
Se tornou um dos discos fundamentais do rock brasileiro, e ao lado de outros trabalhos, configurou o cenário brasileiro em meio à redemocratização. Também é reconhecido por sua famosa capa que apresenta um esboço de Leonardo Da Vinci, intitulado "A expressão de um homem urrando". O álbum trouxe canções imortais da banda, como "Homem Primata", "Família" e "Bichos Escrotos". Em 2007, foi incluído na lista dos "100 Melhores Discos da Música Brasileira" da revista Rolling Stone, ficando com a 19ª posição.
Em fevereiro de 1986, antes de um show em São Paulo, o vocalista Branco Mello já havia antecipado ao jornal O Estado de S. Paulo que o próximo álbum da banda teria um "rock mais seco, mais cru" e um som "mais primitivo, mais visceral".
A prisão do vocalista Arnaldo Antunes e do guitarrista Tony Bellotto por porte de heroína no final do ano anterior, o "relativo fracasso" de Televisão e a clara vontade da banda de buscar uma sonoridade pesada influenciaram na mudança estética que o grupo tomou neste disco.
Além disso, eles não decidiram virar punks da "noite para o dia". Os ingredientes, segundo o tecladista e vocalista Sérgio Britto, já estavam presentes na banda anteriormente.
Tony diz ainda que a banda já dava sinais desta sonoridade no palco:
“O tempo mostrou que essa vertente estava no nosso DNA, por isso o Cabeça é uma grande marca, com toda a coisa do questionamento, com a crítica que a gente vê nas letras, com o punk, mas também o reggae, o funk. Acho que nesse disco a gente achou o caminho. ”
Além disso, o então baterista da banda Charles Gavin considerava que o momento conturbado vivido tanto pela banda quanto pelo Brasil como um todo foram também fatores de influência para o disco:
“Havia o momento do Brasil que estava se desenhando muito problemático, uma ditadura militar ainda se desmanchando, a morte de Tancredo Neves. O clima era de desilusão, um cenário de distopia. E havia também nosso momento como banda. Tínhamos vindo de Televisão, nosso segundo disco, incompreendido pela gravadora, que não foi bem trabalhado. Isso nos provocou certo dissabor, ceticismo com a música, a carreira. Chegamos ao disco com raiva do mercado, da gravadora, de todo mundo.”
Para o coprodutor Pena Schmidt, o álbum "era o momento da verdade. Os Titãs tinham crises entre se entregar à perfeição fonográfica ou à afirmação da rebeldia. Ali o resultado se equilibra faixa a faixa."
O material musical de Cabeça Dinossauro já estava todo definido antes das sessões começarem. A banda tinha a vontade de reproduzir em estúdio a energia que eles acreditavam ter no palco. O álbum foi gravado e mixado em um mês no estúdio Nas Nuvens, no Jardim Botânico, enquanto que sua fita demo foi gravada em apenas dois dias, em um estúdio na Pompeia.
A primeira faixa a ser gravada foi o single "AA UU", que já era tocado em shows. A última foi o encerramento "O Que". "O Que" e "Família" foram as únicas que sofreram mudanças significativas em seus arranjos. O vocal de "A Face do Destruidor" foi gravado "em um fôlego só" em cima da base tocada de trás para frente. Segundo Sérgio, "quando gravamos tínhamos que pensar que aquilo ia ser ouvido dessa maneira".
A capa foi baseada em um esboço do pintor italiano Leonardo da Vinci, intitulado "A expressão de um homem urrando". Um outro desenho de Da Vinci, "Cabeça grotesca", foi para a contracapa do disco. Ambos os acetatos vieram diretamente do Museu do Louvre, trazidos por um amigo de Almino Monteiro, pai de Sérgio. Eles vieram substituir pequenas reproduções das quais a banda dispunha mas que tinham qualidade insuficiente para o projeto. Foi uma das primeiras capas do rock brasileiro a não envolverem uma foto do artista.
Conforme relatou Sérgio em 2006, "as primeiras 30 mil cópias do disco foram feitas em um papel fosco e poroso muito mais caro que o normal. Generosidade do André Midani, então presidente da Warner, que nos deu total apoio antes, durante e depois da gravação atendendo a quase tudo o que pedíamos."
Em 1987, a arte da capa foi a vencedora do prêmio "Concurso Company de Capas de Rock" promovido pela Rádio Cidade, do Rio de Janeiro.
Alguns dos solos de Tony no disco foram feitos alternando a palheta com um anel grande que ele usava. Desta forma, ele tocava ao mesmo tempo em que fazia uma espécie de percussão na guitarra.
Precedido pelo single "AA UU", Cabeça Dinossauro foi lançado em 25 de junho de 1986 pela gravadora WEA. O disco rendeu uma turnê nacional que, até dezembro daquele ano, já havia levado o grupo a cerca de 40 palcos. Na época, estava prevista para ir até abril do ano seguinte. Os cenários dos palcos traziam peles de animais.
Na época do lançamento do álbum, Tony apostou uma garrafa de uísque com o vocalista Branco Mello que o álbum não chegaria a 100 mil cópias vendidas. Ele acabou perdendo a aposta. Até seu primeiro aniversário, é certo que o álbum havia vendido 250 mil cópias, número que havia aumentado para 700 mil em 2016. Quando atingiu a marca de 100 mil, rendeu à banda seu primeiro disco de ouro e a marca foi celebrada com um show em São Paulo.
Lado um
"Cabeça Dinossauro"
A faixa-título foi feita durante uma viagem de ônibus da banda. O vocalista e saxofonista Paulo Miklos mostrou aos colegas uma fita cassete com gravações de música tribal Xingu.
Sobre aquele ritmo, o vocalista Branco Mello improvisou os primeiros versos, e logo a letra estava pronta. A percussão foi tocada por Liminha. Após várias tentativas elaboradas, ele improvisou com as paredes, o chão e as colunas do estúdio, e a performance "em transe" foi aprovada por todos.
"AA UU"
"AA UU" foi composta por Marcelo Fromer e Sérgio Britto, sendo a primeira faixa a ser gravada para o disco; ela já era tocada antes em shows. Foi tocada por rádios, mas não sem resistência. Ela só estourou após seu clipe ser exibido no programa Fantástico, da Rede Globo. Foi incluída na telenovela Hipertensão, da TV Globo, e na trilha sonora do filme Meu Nome Não É Johnny, de 2008.
"Igreja"
"Igreja" foi composta apenas por Nando Reis na casa de sua mãe. Foi uma das últimas canções a entrar no álbum e provocou discórdia entre os membros. O vocalista Arnaldo Antunes inicialmente se recusou a gravar a faixa, e chegou a deixar o palco em algumas ocasiões em que ela foi apresentada ao vivo. Miklos também se opôs à inclusão da faixa, porém mudou de ideia após executá-la nos shows.
"Polícia"
"Polícia" foi composta pelo guitarrista Tony Bellotto, inspirada em sua prisão por porte de heroína no final de 1985. Bellotto tinha em mente Miklos nos vocais, porém como Britto havia cantado em apenas outras duas canções, acabou ficando com esta.Os membros da banda não achavam que a faixa tinha potencial em primeiro momento, e Bellotto mais tarde atestou uma certa "ingenuidade" na letra.
"Estado Violência"
"Estado Violência" foi composta pelo baterista Charles Gavin, e havia sido inicialmente oferecida ao Ira!, banda na qual ele tocava antes. Nando ajudou-o a estruturar a música, mas não interveio o suficiente para querer constar como coautor. A letra, por sua vez, a exemplo de "Polícia", também foi inspirada pela prisão dos dois colegas de banda, mais especificamente pelo poder de que o estado dispõe para "julgar o que você faz na sua casa, com o seu corpo".
Lado dois
"Bichos Escrotos"
"Bichos Escrotos" foi composta por Nando Reis, Sérgio Britto e Arnaldo Antunes. Durante a gravação de uma demo, os três aproveitaram para descansar em um pátio. Em dado momento, Reis viu uma barata saindo de um ralo e isso inspirou os três a começarem a criar uma música ali mesmo sobre o tema.Segundo ele, a canção utiliza os animais citados em sua letra (baratas, ratos e pulgas), que são considerados marginais, como metáforas para os próprios Titãs, que buscavam fugir de padrões e estereótipos estéticos, musicais e morais.
"Família"
"Família" foi composta por Arnaldo Antunes e Tony Bellotto, e retrata eventos do dia-a-dia de uma família típica. É estruturada no gênero reggae. Sua versão inicial era mais lenta, mas o produtor Liminha a tornou mais longa, embora a banda não tenha gostado de imediato do resultado.
"Homem Primata"
"Homem Primata" já havia sido feita antes das sessões. Entre os compositores, Ciro Pessoa, vocalista que resolveu sair da banda antes das gravações do primeiro disco. O videoclipe da canção começa com a banda em imagens preto e branco andando em meio a uma multidão, com imagens alternadas de homens das cavernas. Depois (agora em cores), a banda picha um caminhão (com ilustrações que incluem o símbolo do anarquismo) e passa a tocar a música em cima do mesmo, enquanto passeiam pelo centro de São Paulo. Alternadamente, imagens da banda tocando de dentro de uma jaula com pessoas assistindo de fora aparecem.
"O Que"
"O Que" é composta e cantada por Arnaldo Antunes, sendo a canção de maior duração do álbum. Foi a última faixa gravada para o disco e a que mais sofreu mudanças em seu arranjo. O seu uso de experimentações da música eletrônica influenciaria bastante os próximos trabalho da banda, principalmente seu álbum seguinte Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas.
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